SNBA - Sociedade Nacional de Belas Artes
Rua Barata Salgueiro 36, 1250-044 Lisboa
Segunda a sexta: 12:00-19:00
Sábado: 14:00-19:00
09/09 - 08/10/2022
Inauguração: 9 Setembro, 18:00 - 20:00
Alexandre Delmar, “Monumentos Acidentais”
Lisa Kohl, “The Line”
Pedro Lobo, “Um Livro Doloroso”
Silja Yvette, “Metaphysics of Core Matter”
Alexandre Delmar, “Monumentos Acidentais”
Sinopse
Monumentos Acidentais é uma colecção que começou em 2007 e que continua. Aqui, interessa-me os “erros” e a “suspensão” na paisagem. Interessa-me também o aspecto performático e escultórico destes objectos/corpos que vou encontrando pelas viagens que vou fazendo. Vejo-os categoricamente como totens.
Existe uma tensão irónica entre a familiaridade destes objectos que, apesar de tão distantes entre si, ocupam um certo espaço universal.
Bio
Alexandre Delmar (Porto, 1982) vive e trabalha entre a cidade do Porto e a aldeia de Lagoa, em Trás-os-Montes.
Em 2005 terminou o Bacharelato pela Escola Superior Artística do Porto e em 2007 licenciou-se em Tecnologias da Comunicação Audiovisual pela ESMAE.
Foi artista em residência da Open Studios em Praga (República Checa) e da Frauga - XVI Encontros da Primavera, em Picote. Foi bolseiro da Fundação Oriente (Kolkata, Índia), do concurso Criatório do Porto e do programa de atividades satélites da Porto Design Biennale. Foi um dos artistas premiados na XXI Bienal Internacional de Arte de Cerveira com “A Fala das Cabras e dos Pastores”. Em 2021 cria A Recoletora, juntamente com Maria Ruivo, e publica, em co-autoria, o livro “Anotações sobre o Abaixo de Cão” pela editora Spector Books.

©Lisa Koh, “The Line”, film still, 2019
Lisa Kohl, “The Line”
Audio-visual installation, HD, 6min.
Tijuana, US-Mexican border, 2019
Sinopse
A instalação audiovisual "A Linha", filmada na fronteira EUA-México, em Tijuana, mostra a perspectiva aérea. Visualmente, ela cria uma divisão da imagem, uma fronteira. Esta vista - vista de pássaro visa evocar a vigilância e o poder divino. O ritmo repetitivo e meditativo das ondas é acompanhado por uma locução que fala da identidade, da pátria, da travessia de fronteiras, da futilidade e da esperança.
Bio
Lisa Kohl nasceu na cidade do Luxemburgo em 1988. Diplomada pela Escola Superior Nacional de Artes Visuais La Cambre (Bruxelas), tem desenvolvido uma prática artística que assume várias formas: séries fotográficas, instalações escultóricas e performances em vídeo e áudio. O seu trabalho aborda os temas da fuga, exílio, dos não-lugares da vida e da sobrevivência, da invisibilidade e da ausência. Através da estética poética da imagem, ela convida-nos a refletir sobre a identidade, o cruzar de fronteiras, a esperança e a futilidade. Em 2019 usufruiu de uma bolsa para a Residência de Artistas Villa Aurora em Los Angeles, EUA. O seu trabalho fotográfico, realizado em territórios singulares na Grécia, Califórnia ou na fronteira EUA-México, foi reconhecido com diversos prémios: nomeação para o Prémio Edward Steichen (2019); recipiente do Prémio Pierre Werner (2020); Prémio StART-up Studio da Fundação Œuvre Nationale de Secours Grande-Duchesse Charlotte (2020-2021). O seu projecto ERRE foi exposto pela organização sem fins lucrativos Lët’z Arles, na Chapelle de la Charité, com curadoria de Danielle Igniti, durante o festival Rencontres de la Photographie d’Arles em Julho de 2021.
Em 2022, Lisa Kohl recebeu uma bolsa para uma residência de seis meses no centro cultural Künstlerhaus Bethanien em Berlim (financiada pela Kultur | lx – Arts Council Luxembourg).
Pedro Lobo, “Um Livro Doloroso”
Sinopse
Augusto dos Anjos foi o poeta que me veio à cabeça, assim que terminei de ler o livro Not Yet do fotógrafo brasileiro Pedro S. Lobo (2020). Outros artistas, poetas e músicos merecem também uma lembrança neste espetáculo fúnebre e decrépito, que nos atormenta a alma... As paisagens e seres bizarros do holandês Hieronymus Bosch, os caprichos fantasmagóricos do espanhol Francisco de Goya, o aparelho de execução de sentenças da Colônia Penal de Franz Kafka, a dança mortal orquestrada por Igor Stravinsky em seu balé A Sagração da Primavera, as vozes tenebrosas de Nick Cave, Tom Waits e Mark Lanegan. Essas são algumas das referências que parecem compor o discurso visual apresentado nesse livro de fotografias de Pedro Lobo. Como se monstros, vermes, cheiros fétidos, amoníacos, chagas endêmicas, infecções, pus e escarros estivessem todos ali, ativos infecciosos saídos dos versos para a dor de nossas vidas. Vemos como se por meio dos olhos do malfadado e enigmático poeta brasileiro, Augusto dos Anjos.
Mas o livro pode ser ainda mais doloroso. Em florestas queimadas, solos rachados, pinturas descascadas, esculturas violentadas, placas oxidadas, ossos abandonados, animais atropelados, remendos, trincas e objetos carcomidos, reconhecemos a nós mesmos: a humanidade. Uma humanidade que não se vê naquilo que destrói, mas como entidade apartada de seu lugar, da própria terra que corrói. Não reconhecemos nas fotografias de Pedro S. Lobo a nossa própria morte – em cotidiano ato suicida –, mas como se a de um outro abstrato, desalmado, desterrado. Mas somos nós os protagonistas, tão bem representados em sombrias páginas que acumulam nossa história. É a nossa mão civilizatória, que construiu para si uma ideia de natureza e humanismo, que não percebe que aquilo que se apresenta como glória é o próprio impulso de sua morte. Not Yet é assim: uma narrativa potente dessa marcha fúnebre que é o Antropoceno. Um estridente aviso da escalada mortal em que nos metemos e que, até agora, pouco nos esforçamos para nos livrar.
EDUARDO AUGUSTO COSTA, Professor doutor do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, desenvolve a pesquisa Cultura Visual e História Intelectual: arquivos e coleções de arquitetura, vinculada ao Programa Jovem Pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Bio
Pedro Lobo estudou na School of the Museum of Fine Arts, Boston e no International Center of Photography (ICP), em Nova Iorque. Entre 1978 e 1985 foi fotógrafo/investigador do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC com Aloísio Magalhães e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) onde foi o responsável pela documentação fotográfica para os processos de inclusão na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO das cidades de Olinda, Ouro Preto, Salvador, Santuário do Bom Jesus de Matosinhos e São Miguel das Missões. Em suas séries fotográficas, nas favelas cariocas – “Arquitetura de Sobrevivência” – nas prisões de Carandiru e Medellín – “Espaços Aprisionados” – utiliza a fotografia de arquitetura como meio de retratar a condição humana. Tem exposto regularmente seu trabalho, em individuais ou em colectivas, no Brasil, em Portugal, nos Estados Unidos, na Dinamarca, na Alemanha, na China e na Colômbia. Sua obra figura em diversas coleções públicas e particulares. Recebeu o V Prêmio Marc Ferrez, as bolsas CAPES-Fulbright e a Vitae de Fotografia. Atualmente reside em Borba, Portugal, trabalhando na Europa, nos EUA e no Brasil.
Silja Yvette, “Metaphysics of Core Matter”
Sinopse
Tudo começou por um interesse fervoroso nas omnipresentes embalagens de esferovite que invadem as nossas casas a cada compra e encomenda online. Silja Yvette não conseguia deixar de pensar que este material e as suas variantes industriais podiam ser como o pigmento dos nossos tempos. Uma espécie de caixa de ferramentas dos tempos modernos. Uma marca dos nossos desejos. E, no entanto, apesar da sua omnipresença, a esferovite raramente aparece representada nas obras de arte, provavelmente devido à sua qualidade efémera.
“A Metafísica da Matéria Nuclear” acaba por ser uma investigação artística dos materiais de uso massivo contemporâneo, as suas inovações ambientalmente corretas, e a sua integração na produção e prática artística. Materiais como a espuma, a esferovite, e o alumínio, que são extraídos da crosta terrestre através de processos de extração muitas vezes devastadores. Ao mesmo tempo, falamos já da idade do alumínio, a tal ponto ele está presente em todos os produtos, na comida, no ar, nos medicamentos, e também na fotografia. Silja Yvette foca-se nestes materiais de uso único para consumo privado, utilização logística ou produção industrial, encenando-os fotograficamente como esculturas temporárias, no seu estúdio, em empresas de embalagens, de reciclagem ou de inovação de materiais, e também em laboratórios fotográficos e de testagem de materiais.
As espumas e esferovites, como invenção dos tempos modernos, encarnam um contraste particular que cativa a artista: por um lado, o envolver, proteger, isolar, a proximidade espacial do real, o molde negativo de tudo o que é precioso, e, por outro lado, o manusear banal e vão, útil mas sem valor. Degradando-se no cumprimento da sua missão logística única, e então, sobejamente inferior. Silja Yvette chama-lhe: o paradoxo das espumas.
O que lhe interessa também nestas esculturas fotográficas é o carácter espumoso, envolvente, expansivo, avolumado. Uma sugestão de cavidade cheia de ar que se adivinha na estrutura celular. O preencher de um espaço ao redor do produto que pretendemos possuir. O fecho hermético e a separação das coisas vivas. O duplicar, triplicar, quadruplicar das camadas protetoras. E, contrariamente aos esforços mais bem intencionados, a indústria de embalagens explodiu nos últimos dois anos, demonstrando todo o seu know-how na separação de camadas, filmes protetores e barreiras de vapor higiénicas.
Na produção desta série, Silja Yvette considerou os fatores de produção das suas fotografias e encontrou uma solução ambientalmente mais correta, que usa materiais reciclados e biológicos de alta qualidade.
Bio
Silja Yvette é uma artista alemã que vive e trabalha em Berlim e em Frankfurt am Main (Alemanha). Diplomou-se na Academia de Belas Artes Städelschule, Frankfurt em 2011, tendo prosseguido estudos em arquitectura até 2010 e filosofia até 2018. Desde 2006, expõe o seu trabalho em exposições individuais e colectivas na Alemanha, desde 2011 noutros países europeus e em 2016 em Pequim. Em 2020, participou em exposições em galerias em Paris e no Festival Imago Lisboa. A sua primeira monografia Season of Admin (Época da Admin) foi publicada pela Kerber Verlag em 2017 e incluída na “Lista Longa dos Mais Belos Livros Alemães de 2018” do Stiftung Buchkunst (Frankfurt/ Leipzig). A sua segunda monografia Collective Creatures (Criaturas Colectivas) foi publicada em 2019 pela Hatje Cantz e ganhou a medalha de prata no prestigioso Deutscher Fotobuchpreis 19/20 (Prémio Livro de Fotografia Alemão). Em 2019, foi nomeada para o prestigioso prémio Edward Steichen Award (LU).