João Mota da Costa

Angst

04.03 - 08.04.2023

Angústia, forte sensação psicológica caracterizada por sensação de opressão, insegurança, falta de humor, ressentimento e dor, que precede algum acontecimento, ocasião ou circunstância normalmente associada a perigos reais ou imaginários.

Nascimento, vida e morte são um todo indissociável que fixa a tragicidade e angústia de nossa existência. Vivemos permanentemente ameaçados pelas doenças, acidentes e conflitos mortais que provocam uma angústia permanente.

Sendo os seres humanos os únicos seres conscientes da sua mortalidade encontram-se numa situação muito peculiar, carregada de sonhos, questões, privações, sofrimentos, interrogações e esperança, a verdadeira angústia de viver.


Na génese deste projecto estão os workshops ´Jusqu’à l’os’ em Arles com o amigo Paulo Nozolino, nos anos 2018, 2019 e 2021.


O Precipício

Emília Tavares

 

O presente trabalho de João Mota da Costa reafirma as suas inquietações existenciais, e a procura permanente dos indícios imagéticos da precariedade da vida.

Sob o título de Angústia, este conjunto de imagens desenrolam um itinerário visual duplamente denso, sob o ponto de vista técnico através de uma impressão fortemente contrastada que acentua a relevância do negro, e, sob o ponto de vista iconográfico na seleção de referências que invocam as representações espectrais do corpo ou os elementos fractais da natureza.

A natureza filosófica da angústia tem, na contemporaneidade, uma relação com as correntes existencialistas, através de uma apreensão do “eu” no seu confronto entre passado e futuro, mas também enquanto característica da liberdade humana, em relação com a multiplicidade de possibilidades, como refere Kierkegaard.

Ora, este itinerário visual está ancorado nesse confronto entre as possibilidades de passado e futuro, bem como na ideia de vertigem, que Sartre identifica desta forma: “a vertigem é ansiedade na medida em que temo não cair no precipício, mas de me lançar nele”.

Existe, portanto, uma urgência conflituosa sobre a existência nestas imagens, visível nas estátuas fragmentadas e consumidas pelo tempo, na anatomia humana, lugar do conhecimento para a construção de uma imortalidade, mas também o rosto da vanitas. Ou através dos equilíbrios instáveis entre elementos, que tanto podem ser falhas em matérias sólidas, equilíbrios antagónicos ou a evanescência dos elementos, todos se submetem a esse legado da vertigem, da angústia das possibilidades.

Coloca-se assim a questão sobre a possibilidade de uma imagem ser um paliativo para a angústia da existência, tal como o enunciou Susan Sontag, ou se ela é o território da morte por excelência, o lugar mesmo onde ocorre a vertigem, o lugar à beira do precipício.



BIO

João Mota da Costa (1954), médico cirurgião plástico, dedicado à área de cirurgia da mão. Começa a fotografar em 1969, com um percurso irregular, por razões profissionais. Desde expõe regularmente desde 2011, quando começa a dedicar mais tempo à fotografia, desenvolvendo trabalho autoral e frequentando o Atelier de Lisboa e a pós-graduação em Discursos de Fotografia Contemporânea na Faculdade de Belas Artes de Lisboa (2015-2016). Tem o seu trabalho editado em várias publicações de autor: A Torre (2014); Álamos (2015); Do Outro Lado do Espelho (2018); Dissecar (2019).

Folha de sala em PDF aqui.

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